sexta-feira, 13 de março de 2009

O meu mundo é o fim do dia

O meu mundo é o fim do dia. Quando já não há sol, mas ainda não é noite e o céu ainda é azul e as nuvens de fogo laranja e o ar já é fresco e os candeeiros da cidade acendem-se de nostalgia e as incontáveis janelas e os metalizados dos carros reflectem as luzes tristes e quentes das nossas noites e o céu tão azul, ainda sem estrelas onde baloiçam, devagar, as copas das árvores já escuras sem verde e as sombras são coisas solitárias e caladas e eu olho lá para o fundo lá para cima onde as nuvens são de fogo e as janelas estão acesas e lembro-me das noites perfeitas deitado na areia ainda quente do deserto e de ti a vires ter comigo alegre sempre alegre e suave tão suave o teu toque quente, o teu abraço meigo a deitares-te comigo na imensidão sob a noite, o teu toque fresh night falling slightly over my flesh, lembro-me,então, que a minha alma é o fim do dia e fico em paz e profundamente feliz nesta fronteira tão curta e efémera, parado neste umbral quase a entrar em casa e é quando a noite cai e eu também e tu adormeceste e o meu coração avermelha-se de sangue e o mundo chama-me para si mas não é o meu mundo.
É só o outro lado do dia.

Excerto do diário de Ângelo do Céu Grande, in Aula Magna

Belo texto e magnífica revista descoberta ainda hoje.

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